Stablecoins: uma solução para a volatilidade das criptomoedas?

O raciocínio por trás das stablecoins

Tatiana Revoredo
6 min readJun 23, 2019

Uma luz no fim do tunel para a volatilidade cripto?

A volatilidade é um enorme obstáculo para a adoção do Bitcoin e outros criptos no comércio. Os comerciantes relutam em aceitar criptos, sabendo que seu valor cai, digamos 20–40%, em um dia. Stablecoins buscam resolver este “para pagamento de bens e serviços”.

Basta converter seu Bitcoin para um stablecoin e pagar com ele para um comerciante que esteja confiante no valor das taxas recebidas.

Se isto realmente é um defeito das criptomoedas, muitos discordam. De todo modo, seriam stablecoins são a luz no fim do tunel para as criptomoedas chegarem ao mainstream?

Se o bitcoin possui uma oferta fixa, se ela segue uma regra rígida que não pode ser mudada, o preço deste ativo tende a ser extremamente volátil.

Como no "sistema monetário" estabelecido no Blockchain Bitcoin, um Banco Central ou autoridade monetária (intermediário, contraparte) para ajustar a oferta de "dinheiro" (Bitcoins), Satoshi Nakamoto estabeleceu no Bitcoin White Paper a estabilidade de quantidade do criptoativo — a medida em que a adoção do Bitcoin cresça, as quantidades de bitcoin aumentam seguindo uma regra rígida que não pode ser adulterada.

Soluções para alcançar a estabilidade de valor

No mundo financeiro tradicional, alcança-se a estabilidade de valor de uma moeda através de um terceiro de confiança, uma contraparte, o que é justamente o que as criptomoedas querem evitar.

Uma segunda solução para a minimização da instabilidade de valor seria seu alcance através de regras algorítmas; por meio de um software que conseguisse saber o real valor das coisas e, assim, conseguisse ajustar a oferta de dinheiro de acordo com esse valor real.

Ora, isto é extremamente difícil.

Eis porquê surgiram as stablecoins.

O que são stablecoins, afinal?

Hoje, existem 180 moedas em todo o mundo que são reconhecidas pelas Nações Unidas, desde o dólar americano até o euro europeu e o iene japonês, e muito mais.

Nas economias globais, essas moedas são frequentemente usadas para comprar bens e serviços. Apesar da inflação, das taxas de câmbio flutuantes e de outros fatores, o valor da maioria dessas moedas está sujeito a muito pouca alteração de valor no dia-a-dia.

Isso permite que várias economias dependam do uso dessas moedas emitidas pelo governo para operar. Em outras palavras, você pode comprar um pão na sua padaria favorita e pagar RS $ 2,50 por ele hoje, sabendo que é altamente improvável que ele suba drasticamente para R$ 10,00 amanhã.

Stablecoins — na forma de dinheiro digital — tem como objetivo imitar moedas tradicionais e estáveis.

Hoje, temos três variantes de stablecoins.

Stablecoins algorítmicas, lastreadas e sintéticas

As algorithimicas (1) que possuem um protocolo responsável por ajustar a sua oferta, como a stablecoin Maker Dao. Nesta espécie de stablecoins, a ideia é que sua quantidade seja ajustada por meio de algoritmos). Elas tentam ajustar o valor, ajustando a quantidade de moeda.

As outras stablecoins, são aquelas onde se introduz um terceiro de confiança. Pra que um terceiro? Porque estas stablecoins são lastreados, e vinculadas em uma proporção de 1: 1 com certas moedas fiduciárias, como o dólar americano ou o euro, que podem ser negociadas em bolsas de valores.

Outras stablecoins podem ser atrelados a outros tipos de ativos, como metais preciosos como o ouro, ou mesmo a outras criptomoedas.. Em inglês, são chamadas de "backed stablecoin". O fenomeno das stablecoins lastreadas (2) possui como exemplo mais conhecido, e também a mais polêmica, a USDollar-Tether.

Nesse sentido, a Libra Coin seria uma stablecoin lastreada.

Nas stablecoins lastreados, há um emissor, uma empresa que cria um token, e hoje a maior parte delas usa o padrão ERC-20 na rede Ethereum. E elas emitem um token a medida em que realmente entra um token na conta corrente da empresa que está lastreando aquela stablecoin. Este é o sistema usado pelo USDolar Tether (inicialmente usava o Omini protocol, mas está hoje querendo mudar para o ERC-20).

Outras stablecoins lastreadas são a true-USDollar, a Gemini US Dólar (que é dos irmãos Vikilevos), a USD Coin (criada pela empresa Circle, uma investida da Goldman Sachs que comprou a corretora de criptomoedas Poloniex).

A USD Coin desenvolveu um software open source, onde eles autorizam alguns emissores de USD Coin a também emitir tokens usando contrato inteligente via ERC-20 e lastreando um pra um.

Por fim, há também a stablecoin da exchange de Cingapura Huobí, mas neste caso cuida-se deuma stablecoin lastreada numa "cesta de stablecoins". Quem deposita na Huobi alguma das stablecoins que lastreiam a stablecoin da Huobi, recebe uma stablecoin sintética (3).

O valor total do mercado de stablecoins é estimado em US $ 3 bilhões

O número de projetos de stablecoin ativos aumentou significativamente no ano passado. De acordo com um relatório recente publicado pela Blockchain, existem atualmente 57 projetos em desenvolvimento, 23 dos quais já estão ativos, enquanto os 34 restantes estão na fase de pré-lançamento.

Das 57 moedas identificadas pelo relatório, cerca de 77% são apoiadas por reservas, com 66% das ações atreladas ao dólar norte-americano.

A maioria dos stablecoins, cerca de 60 por cento deles, são construídos exclusivamente na plataforma Ethereum. Depois da Ethereum, as plataformas de tecnologia mais populares para as stablecoins são Bitcoin, Stellar e NEO.

Cerca de 69 por cento das equipes de projeto stablecoin têm código aberto para disponibilizá-lo para inspeção de auditoria.

"The State of Stablecoins" research by Blockchain 2018

Porque garantia fiduciária não põe as stablecoins a salvo do escrutínio regulatório?

Em abril de 2018, um projeto de stablecoin algorítmico chamado Basis fez manchetes quando levantou US $ 133 milhões de vários fundos proeminentes e empresas de capital de risco. Mas, apenas oito meses depois, a Basis fechou inesperadamente e devolveu o capital restante aos investidores. A razão para o fechamento, de acordo com o CEO da Basis, Nader Al-Naji: “Nós nos reunimos com a SEC para esclarecer muito do nosso pensamento [e] tivemos a impressão de que não seríamos capazes de evitar a classificação de títulos”.

Não é difícil ver por que a SEC pode ver Basis através das lentes de uma oferta de valores mobiliários.

O protocolo da Basis foi projetado para manter a estabilidade, leiloando os títulos “bond” e “share” para os investidores que lucrariam enquanto a Basis mantivesse sua ligação. Tokens como esses podem se qualificar como “contratos de investimento” sob a lei dos EUA e, portanto, podem se enquadrar na definição de um título. Aparentemente, a equipe da Basis decidiu que os requisitos regulatórios impostos por essa classificação eram muito onerosos para serem superados.

Apesar do final surpreendente de Basis, não tem havido muita discussão na indústria de criptografia sobre como as leis de valores mobiliários e de commodities dos EUA podem se aplicar às moedas estelares.

De fato, a maioria dos participantes do setor parece estar certa de que as armas estáveis ​​com garantia fiduciária estão a salvo do escrutínio regulatório. Essa suposição pode ser perigosa.

Também há desafios às stablecoins

A escalabilidade continua sendo um dos maiores problemas atualmente enfrentados pelas stablecoins. Para alcançar um nível de liquidez suficiente para suportar algumas das aplicações mais interessantes da tecnologia, milhões, ou talvez até bilhões de dólares de investimento serão necessários, o que poderia restringir o crescimento das stablecoins.

Quando se fala de casos de uso na casa dos trilhões, sempre há um limite ou fricção na velocidade exigida para que algo possa escalar, e isso é um enorme problema, potencialmente falando.

Há também uma série de obstáculos regulatórios a serem superados, como brevemente mencionamos no tópico anterior.

Como as stablecoins são mais semelhantes às moedas fiduciárias, elas podem ter um impacto maior na política monetária do que criptomoedas como o Bitcoin.

Bem por isso, as stablecoins podem encontrar uma resistência mais forte dos bancos centrais.

The Takeaway

Extrai-se do dito nos parágrafo anteriores que as stablecoins buscam resolver o problema da instabilidade de valor das criptomoedas.

Mas você resolve este problema, abrindo mão de uma das características essenciais das criptomoedas, que é a descentralização, deixa de eliminar o risco dos intermediários e validadores de confiança tradicionais — a contraparte.

Há ainda muitas questões a serem resolvidas… como comprovar, por exemplo, que as backed stablecoins estão devidamente lastreadas e evitar situações como o Tether USD Dollar?

De todo modo, conquanto seja difícil alcançarmos o equivalente digital de um franco suíço (que não mudou significativamente seu valor desde 1879), um ativo que pode manter seu valor em face da volatilidade (seja lá o que for) não deixa de ser muito atraente.

Gostou do artigo? Junte-se a mim em várias plataformas de mídia social, aqui. Compartilho pensamentos mais detalhados em um boletim mensal que você pode assinar “gratuitamente”aqui (escolha a opção “None”).

--

--

Tatiana Revoredo

LinkedIn Top Voice | Blockchain | Web3 | Technology & Innovation | Oxford Blockchain fdn • #2Top50 Cointelegraph Br